Ricardo Moscatelli

Humanos e gafanhotos

Ricardo Moscatelli

Publicado

há 2 anos

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Humanos e gafanhotos

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Há quase 20 anos, li um texto chamado “Em Busca do Caminho das Pedras” e, desde essa leitura, esse texto se tornou um dos meus principais guias de reflexão. A partir daí não consegui mais desassociar os seres humanos, em uma grande parte de nossa “raça”, a uma grande nuvem de gafanhotos, cujo único propósito parece ser apenas consumir e se satisfazer. Logicamente que, diferente dos insetos, fazemos isso com muito mais sofisticação, adicionando aí o nosso pesado e incontrolável ego. Para quem ainda não leu esse texto, recomendo fortemente. Embora escrito há quase duas décadas, ele continua super atual ou, infelizmente, ele se tornou atemporal. Como gosto de coisas mais sintéticas e objetivas troco alguns livros teóricos por essa reflexão, escrita pelo brilhante Jornalista Washington Novaes, qual tive a honra de conhecer (e, diga-se de passagem, foi ele quem me contou que Guararema tinha abrigado a primeira colônia anarquista do Brasil).

O texto trazia dados do Worldwatch Institute, dando conta da insustentabilidade das ações humanas no planeta (único) que vivemos. Tudo muito ligado ao nosso consumo e logicamente responsabilizando quem pode consumir e o faz de forma desequilibrada.

Os dados estão disponíveis há muitas décadas, o impacto humano tem afetado a saúde do planeta nitidamente mas, como em “Não Olhe Para Cima”, continuamos negando os dados e os fatos e descendo ladeira abaixo, nos destruindo aos poucos…

Essa minha fala sempre parece, e já fui acusado disso, pessimista. Principalmente aos olhos de quem quer manter o conforto e os privilégios de quem os dispõe, incapaz de tirar o pé do acelerador por um mundo melhor e mais equilibrado para a maioria. Esse tipo de gente tem nome e se chama egoísta! Ousando filosofar, afirmo que geralmente o pessimismo não move ninguém e, pelo contrário, também move mais gente para o ostracismo. No meu caso continuo lutando. Otimista? Acho que também não.

Nos dias atuais, “saindo” de uma pandemia, entrando numa iminência de guerra global, crise econômica, milhões de pessoas depressivas, com fome ou estressadas, o cenário não está nada bom… Mas, lembrem-se, tudo isso sem uma casa é ainda pior. E o que estamos fazendo com a “nossa casa comum”?

Ricardo Moscatelli é pós-graduado em Educação Ambiental, graduado em Administração de Empresas e graduando em Geografia. Tem experiência profissional na indústria, na prestação de serviços, no 3º setor e no setor público, tanto no Poder Legislativo como no Poder Executivo. Morou na Austrália e em Angola, onde pôde observar extremos no desenvolvimento humano em infraestrutura e meio ambiente. Atualmente é Especialista Socioambiental no Instituto Suinã.