Brasil
Homem que entrou na jaula da leoa em João Pessoa tinha mais de 10 passagens pela polícia e histórico de abandono, pobreza e transtornos mentais
Criado em orfanato, filho de mãe com esquizofrenia e único entre os irmãos que não foi adotado, o jovem depredava locais públicos para conseguir comida e abrigo, alimentava a fantasia de ser domador de leões e sonhava em ir para a África

A morte de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, após invadir a área onde estava uma leoa no zoológico de João Pessoa, no fim da tarde de domingo (30/11), trouxe à tona uma trajetória marcada pela exclusão social, pela ausência de acompanhamento psiquiátrico e por um histórico de reiterados conflitos com o poder público, já que o jovem acumulava mais de dez passagens pela polícia por atos de vandalismo contra viaturas e prédios públicos.
Conhecido como “Vaqueirinho”, ele foi acompanhado por anos pelo Conselho Tutelar e desde a infância vivia em situação de extrema vulnerabilidade, criado entre abrigos, fugas e tentativas frustradas de reconstruir vínculos familiares. Filho de uma mulher com diagnóstico de esquizofrenia e de avós com comprometimentos graves de saúde mental, Gerson cresceu em meio à pobreza extrema e à ausência de referências estáveis, o que agravou ainda mais seu quadro psicológico.
Mesmo após perder o poder familiar, continuava procurando a mãe, mantendo o desejo de ser acolhido, embora a família não tivesse condições de oferecer suporte emocional ou estrutural. Entre os irmãos, foi o único que não conseguiu ser adotado, justamente por apresentar sinais de transtornos psíquicos, o que acabou dificultando sua inserção em um novo lar.
Desde cedo, alimentava uma ideia recorrente de viajar para a África para “domar leões”, algo que, ao longo dos anos, deixou de ser apenas fantasia e passou a representar riscos reais, como quando tentou acessar clandestinamente uma aeronave.
O reconhecimento oficial de seus transtornos aconteceu apenas quando ele já estava inserido no sistema socioeducativo, mostrando que o diagnóstico tardio e a fragilidade da rede de apoio contribuíram para um desfecho que hoje é visto não apenas como uma fatalidade, mas como o resultado de uma sequência de falhas na proteção social e no cuidado com a saúde mental.

















