Editorial
Silêncio no asfalto: o debate do pedágio será sepultado em 2025
Com 2025 acabando, o debate morreu, mas o pedágio continua no bolso do cidadão

O pedágio da Mogi–Dutra já não é promessa, ameaça ou debate técnico. É realidade. Instalado em sistema free flow, sem cancelas e quase invisível para o motorista, ele cobra antes mesmo que muitos entendam como tudo aconteceu. A ironia é que a via, construída pela própria Prefeitura de Mogi das Cruzes ao longo de décadas, agora cobra do cidadão um preço decidido fora do alcance da cidade. A obra é municipal, mas o pedágio não é. E a população, novamente, paga por decisões tomadas acima dela.
Depois de tanta discussão, vídeos, explicações e disputas narrativas, o tema desapareceu do noticiário. Mas não porque foi resolvido. Pelo contrário: quando o pedágio entrou em funcionamento, o silêncio entrou junto. Nada mais conveniente do que diminuir o volume exatamente quando o impacto começa a aparecer.
A Prefeitura questiona o modelo e expõe seus argumentos. Mas, na prática, não detém o poder final sobre a cobrança. A cidade que construiu a estrada não é a cidade que decide sua tarifa. Essa é a contradição que poucos mencionam e muitos preferem simplificar. Os motoristas sabem que, questionar ou não, a cobrança já está ativa. E o bolso não tem período de adaptação.
Agora entramos na fase mais previsível: a disputa política. Cada grupo tentará moldar sua própria versão do enredo nas próximas eleições. Uns dirão que lutaram até o limite possível. Outros insistirão que herdaram um problema inevitável. Alguns apontarão para governos anteriores, outros para governos superiores.
A verdade? Essa, como sempre, será recontada conforme a conveniência de quem estiver no palanque.
O fato bruto permanece: o pedágio existe, funciona e cobra. E a população, à qual ninguém deu poder de decisão, ajusta-se como pode, entre rotinas, deslocamentos e novos custos que não escolheu pagar.
Se o debate será enterrado com 2025, não sabemos. Mas uma certeza já está posta no asfalto: quando o pedágio é inevitável, a narrativa vira a única coisa que ainda pode ser disputada.



















