Lucas Luiz

A tradicional encenação da Paixão de Cristo

Lucas Luiz

Publicado

há 2 anos

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A tradicional encenação da Paixão de Cristo

Que eu seja um pecador não chega a surpreender ninguém. Consciente, bem verdade, o que em nada ameniza a situação. Mas iluminam-se, vez ou outra, cantos recônditos da memória e trazem à tona situações embaraçosas. Por exemplo, ocorreu-me estar diante das pílulas azul e vermelha (muito antes de entrar na moda a expressão redpill), e, sem titubear, ter feito a escolha errada. Outro fato previsível quando sou eu, claro. Desde miúdo fui adepto às conveniências; sempre a pior das escolhas.

Aqui, porém, faz-se necessário um esclarecimento antes da chuva de pedras. Tratava-se de ficção. A boa e velha peça teatral da páscoa. E eu, no auge dos meus treze anos, esbanjando a completa falta de talento ao atuar, ganhei uma única fala como prêmio por tamanha inabilidade: puxar o coro de gritos “Barrabás!” tão logo a deixa de Pilatos termine. Escolher Barrabás à Cristo, nesse contexto, nem se tornaria a maior idiotice da adolescência, dado que vivia ignorando as próprias aptidões e gostos na tentativa frustrada de me enquadrar no meio social; significou apenas mais uma fatalidade dentre milhares. Ali, naquele instante agridoce, quando nos damos conta de estar num local completamente alheio, e a cabeça entra em parafuso tentando entender o porquê de se submeter ao ridículo, eu poderia ter saído com uma valiosa lição – o pensamento de grupo é a maior estupidez humana. A vida imita a arte, afinal. Embora desconhecesse as máximas populares. 

Contudo, eis um fato consumado, a arte enriquece os valores humanos, por isso termos como “formação do imaginário”, “educação pelos clássicos” estarem em voga pela internet, pois, no fundo (muito além de um mercado rentável de vendas de cursos online), há algo de alimento espiritual a transcender nossas ambições mesquinhas. A verdade – dito em toda e qualquer escola filosófica confiável – jamais poderá ser fabricada, apenas (re)descoberta. O que implica, necessariamente, numa nitidez da consciência na qual se exige o máximo da individualidade em seu exame diário. E só nela, quando bem ajustada, se pode avaliar a realidade sem se deixar cair pelas armadilhas dos problemas de ordem imediata. A experiência sincera é o único caminho que nos aproxima da redenção e a arte pode oferecer atalhos nas suas tantas possibilidades, ampliando nosso horizonte através das infinitas vivências possíveis ao homem.

Fosse uma escolha madura seria – sem hesitar – Cristo. Acabaria o espetáculo? Sim! Entretanto, outras páscoas chegam para dar novas oportunidades às pessoas de seguirem fazendo as escolhas mais simples.

Iniciou com crônicas no Jornal D'Guararema. Recentemente colaborou com inúmeras Revistas Literárias de prestígio, entre elas: A Bacana, Philos, Ruído Manifesto, Subversa e Mallarmargens. Dá pitacos sobre literatura e artes no blog https://poeminhoscult.wordpress.com/ e no https://medium.com/@luscaluiz-46957 . Além de alimentar com poesia o instagram @lucasluiz_ .