Guararema

Lições do Ping-Pong

José Freire

Publicado

há 5 anos

em

Lições do Ping-Pong

“O jogo vai até 5”, “3x0 elimina”, “Empate vai a 2”, essas são frases típicas de se ouvir em volta de uma mesa de ping-pong. Longe de se tratar de uma realidade prosaica, essas frases revelam aspectos interessantes da natureza humana.
Todas essas frases revelam uma noção inata que habita no coração dos homens. Se alguém fura a fila para jogar antes, logo os demais protestam energicamente clamando a injustiça daquele ato. De onde vem essa noção de justiça? De onde vem o senso de que quem perde deve sair da mesa e ceder lugar ao próximo?
Longe de ser uma exclusividade das regras esportivas, essas regras se manifestam em várias esferas da vida humana. Então, quem instituiu essas regras? 
Parece que elas jamais foram instituídas por uma pessoa, mas foram descobertas por inúmeras pessoas em circunstâncias distintas. Com essas regras, logo vem a necessidade de resolver disputas oriundas da inobservância dessas normas. Numa mesa de ping-pong, isso em geral se resolve pelos participantes, o que tecnicamente se chama de autocomposição, uma das categorias de resolução de disputas no Direito.
Em se tratando de Direito, descobri a satisfação de jogar ping-pong durante o curso de direito, onde, curiosamente, grande parte das regras que enumerei acima eram observadas. Como dois grupos de pessoas distintos em termos de idade, local e tempo chegam a conclusões tão semelhantes quanto a quais normas que devem orientar o ping-pong?
O mesmo raciocínio se aplica às grandes civilizações da história: havia discordância se um homem poderia se casar com uma ou mais mulheres, mas nenhuma civilização que perdurou por muito tempo afirmava que um homem poderia se casar com qualquer mulher; havia discordância acerca de se os estrangeiros deveriam ser tratados com a mesma deferência que aqueles do mesmo povo, mas tratar seus compatriotas com desprezo jamais esteve na moda.
Ou seja, não somos tão diferentes assim um dos outros. Disso, tiramos duas conclusões: (i) as crenças e costumes das civilizações apontam para um princípio universal que ordena a moral e os costumes; (ii) essa unicidade na experiência humana abre espaço para diálogo e a observância de um conjunto de princípios comuns a todos.
Quando assim for, caminharemos como genuínos irmãos e irmãs sendo brasileiros, argentinos, canadenses, russos ou chineses. Então, Eles serão o meu povo e Eu serei seu Deus (Jr 32:38).

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.