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Ciência e Saúde

Fim da campanha Setembro Amarelo

psicóloga Geovanna explica os principais fatores de risco, as formas de prevenção e a importância do acolhimento

Gabriella Barrachi

Publicado

há 3 horas

em

Fim da campanha Setembro Amarelo

Reprodução

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização que ocorre anualmente para a prevenção do suicídio. Iniciada em 2015 no Brasil, a iniciativa busca promover o diálogo sobre saúde mental e combater o estigma em torno do tema. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo. No Brasil, o número de casos tem sido alarmante, especialmente entre jovens e idosos.

O fenômeno do suicídio é complexo, influenciado por fatores psicológicos, biológicos, sociais e culturais. Entre os principais fatores de risco estão a depressão, transtornos de ansiedade, histórico familiar de suicídio, abuso de substâncias, além de questões sociais como isolamento e desemprego.

Com o fim da campanha se aproximando, conversamos com a Psicóloga graduada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), pós graduanda em Psicologia Hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Psicóloga de um abrigo institucional para pessoas em situação de rua na cidade de Mogi das Cruzes e psicóloga clínica, Geovanna Barrachi – CRP-SP 06/205020 que abordará aspectos cruciais da prevenção e do cuidado com a saúde mental.

O Novo: Quais são os principais fatores de risco associados ao suicídio, especialmente entre jovens e idosos?

Geovanna: Diante dos inúmeros fatores que podem apresentar riscos e levar ao suicídio, estão as doenças mentais, como depressão e esquizofrenia, fatores, financeiros, sociais e/ou familiares e ainda, causas que ocorrem momentaneamente e a pessoa acha que a melhor saída é deixar de viver, acabando de vez com uma dor que poderia ser passageira.

Fatores em comum entre jovens e idosos podem ser a falta de expectativa de vida, jovens que não conseguem ter perspectivas de dias melhores e pessoas idosas que já não veem mais sentido em suas vidas, além disso, a solidão também pode ser um fator de risco para esses dois públicos e quando não compreendida e amparada pode ter um final de extrema dor.

O Novo: Como identificar sinais de que alguém próximo pode estar enfrentando pensamentos suicidas?

Geovanna: Os sinais podem vir de diferentes formas, podem estar em falas recorrentes, em atitudes e comportamentos sutis ou mesmo não existirem, que seria o suicídio súbito, aquele que é motivado por uma situação especifica onde a pessoa não enxerga saída imediata e põe um fim a sua vida.

Uma forma de identificá-los é dando atenção ao que a pessoa está dizendo, jamais interpretar como frescura ou algo que seja apenas para chamar a atenção, observar mudanças de comportamentos também auxiliam na identificação desses pensamentos, por isso, ofereça acolhimento e não desmereça a dor da alma de alguém.

O Novo: Qual é a melhor abordagem para oferecer apoio a uma pessoa que esteja passando por um momento de vulnerabilidade?

Geovanna: Neste caso o mais importante é acolher o que o outro está sentindo, validar aquela dor e mostrar que você pode estar ali com ele para apoiá-lo, pode ser que o desejo da pessoa não seja falar sobre seus sentimentos, mas só em ter alguém próximo mostrando que se importa pode ser o suficiente para prevenir um final trágico.

O novo: Como o tratamento psicológico e psiquiátrico pode ajudar na prevenção do suicídio e na recuperação de pacientes que já passaram por tentativas?

Geovanna: A ajuda na prevenção e na posvenção são indispensáveis, e é muito importante atrelar esses dois tratamentos, de modo que, o psicólogo trabalhará as questões emocionais atreladas aos fatores que motivaram e/ ou que estão motivando, e o psiquiatra fará o tratamento medicamentoso, usando drogas que vão estimular o cérebro, repondo hormônios como ocitocina (hormônio do prazer) e dopamina (hormônio da felicidade), esse trabalho conjunto, tende a trazer benefícios ao paciente, claro que além desses tratamentos, não podemos esquecer da importância de uma boa rede de apoio para acompanhá-lo no processo e estimulá-los a voltar ou realizar atividades que lhes causem prazer.

O Novo: O que pode ser feito, além da campanha de conscientização, para diminuir o número de casos de suicídio no Brasil?

Geovanna: Precisamos lembrar que os suicídios não acorrem apenas em setembro, a campanha do Setembro Amarelo é totalmente valida, mas nos outros meses do ano as pessoas têm medo de falar sobre suicídio, é uma realidade, precisamos falar para ajudar e acolher aqueles que precisam, para que saibam que pedir ajuda não é um ato de fraqueza e que sua dor não é frescura, mas é algo que precisa ser olhado e amparado. Enquanto o senso comum em torno da dor de alma prevalecer, as pessoas continuarão tendo seus sentimentos desvalidados e o número de suicídios continuarão aumentando, infelizmente.

Temos no Brasil o CVV (Centro de Valorização da Vida), esse serviço está disponível vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, através de ligações, site, bate-papo ou e-mail com pessoas capacitadas para acolher a dor daquele que sofre e oferecer acolhimento. Nesses momentos disque 188.

O Novo: Para as famílias que já perderam entes queridos para o suicídio, qual é o melhor caminho para encontrar suporte emocional e psicológico?

Geovanna: A perda por suicídio causa um impacto muito grande naqueles que ficam, diferente de uma morte que ocorre em decorrência de uma doença terminal, por exemplo, a pessoa que se suicida fez a escolha de tirar a própria vida e os motivos para tal decisão se vão com ela, por isso, quem fica carrega um vazio, muitas vezes se culpando e posteriormente pode chegar a cometer o mesmo ato.

Volto a dizer, que uma das melhores formas de amenizar um sofrimento é acolhendo, para isso existem grupos que atuam especificamente em posvenção, cuidando daqueles que ficaram, podendo validar seu sofrimento e auxiliá-los a descobrirem caminhos para se reerguerem, o que não significa esquecer, mas compreender que apesar da dor ainda existe uma vida que pode ser vivida, pois enquanto houver vida, há esperança.

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