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Sociólogo avalia “neutralidade” do Brasil como má decisão

De acordo com Afonso Pola, aproximação do governo de países onde a democracia não é a principal virtude arranha a imagem do Brasil

Fabrício Mello

Publicado

há 2 anos

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Sociólogo avalia “neutralidade” do Brasil como má decisão

Bolsonaro esteve com Putin pouco antes da Rússia iniciar a invasão. Foto: Divulgação

Em coletiva recente, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o Brasil adotará um posicionamento neutro frente ao conflito no Leste Europeu entre Rússia e Ucrânia, iniciado há mais de uma semana. Entretanto, procurado pela redação do O Novo, o professor e sociólogo Afonso Pola avalia a decisão de Bolsonaro como uma “má decisão”.

“Em determinadas situações, a neutralidade pode ser uma boa decisão. Nesse caso específico, eu creio que não”, analisa o especialista. Segundo Pola, o fato de Bolsonaro ter visitado o presidente russo, Vladimir Putin, às vésperas da invasão na Ucrânia, e ter manifestado publicamente solidariedade ao país em questão, também agravam a situação.

"O posicionamento de neutralidade expressado pelo nosso presidente agrava ainda mais a nossa imagem externa. O Brasil é hoje um país bastante isolado e, a tentativa de aproximação do governo federal de países onde a democracia não é a principal virtude, arranha ainda mais essa imagem”, explica o professor. 

Outro ponto criticado por Pola são as falas do presidente em meio à guerra. “Enquanto o presidente Bolsonaro afirma que o Brasil manteria a neutralidade, o Itamaraty condena os ataques à ONU. Enquanto o mundo assistia às tristes imagens dos ataques, nosso presidente criticou o povo ucraniano por ter escolhido um comediante, Volodymyr Zelensky, como líder. Com certeza, não são expressões que devam ser usadas por um chefe de Estado”, lamenta o sociólogo.

Pola também explica que os impactos de um conflito de tal magnitude são sentidas em todo o Planeta, com aumento de preços de petróleo e gás antes mesmo dos ataques serem iniciados, por exemplo. Isso gera um impacto em todas as economias, em destaque a brasileira, que já se encontra “em uma situação muito ruim”, onde já se convive com taxas elevadas de desemprego, inflação e juros, fatores combinados com o encolhimento da renda da população em geral. “Os desdobramentos desse conflito podem retardar ainda mais o processo de retomada do crescimento da nossa economia”, completa.

Por fim, Afonso Pola também faz o questionamento em relação aos interesses dos agentes envolvidos, direta ou indiretamente, no conflito, lembrando dos discursos sobre liberdade de países como Estados Unidos e França em apoio à Ucrânia, mas que promoveram inúmeras invasões ao redor do Globo Terrestre.