Editorial
Entre a ideologia e o Brasil, Lula escolheu sobreviver politicamente
Governo adota posição contra o uso oficial da linguagem neutra

A sanção da Lei 15.263 pelo presidente Lula, proibindo o uso da linguagem neutra na administração pública, escancarou a contradição mais evidente de seu governo. Durante décadas, Lula e seu partido defenderam com entusiasmo as pautas identitárias que tentam remodelar até aquilo que é mais básico, a língua portuguesa. Nos palanques, a linguagem neutra era celebrada como avanço social, símbolo de inclusão e marca do progressismo. Agora, diante de uma lei aprovada pelo Congresso, o presidente a sanciona sem entusiasmo, sem coletiva, sem discurso forte, quase como quem assina algo que não gostaria de assinar.
A decisão não mostra mudança de convicção, mas sim cálculo. Lula não sancionou porque acredita na preservação da língua, mas porque não poderia arcar com mais desgaste político em um momento de queda de popularidade e pressões internas. É o mesmo presidente que discursou ao lado da militância identitária quem agora chancela, oficialmente, que a linguagem neutra não deve fazer parte da comunicação estatal. A sanção revela o limite da ideologia quando confrontada com o bom senso da maioria.
A língua portuguesa é um patrimônio cultural, histórico e espiritual. Não é um laboratório ideológico, nem um brinquedo para experimentações políticas. Ela carrega identidade, valores e a base da comunicação de um povo. Proibi-la de ser distorcida por invenções militantes não é retrocesso, é responsabilidade.
O governo tenta equilibrar dois mundos: a pressão das redes e da militância, e a clareza do cidadão comum que reconhece que “todes” não resolve problema algum. No fim, a esquerda viu seu próprio líder colocar freio em uma agenda que ela mesma alimentou por anos. Uma ironia que revela muito sobre o momento político do país.
O Brasil precisa de sobriedade, de clareza e de compromisso com a verdade. A linguagem neutra sempre foi apenas ruído, não solução. No fim, o respeito deve ser para todos, mas não devemos confundir inclusão com a desconstrução daquilo que sustenta nossa identidade.



















