Editorial
Pedágio da Mogi-Dutra ‘cai’, e o jogo político começa pra valer
Na política, o sucesso tem muitos pais. Mas aqui, o mérito é do povo mogiano

A liminar que suspendeu a cobrança de pedágio na Rodovia Mogi-Dutra foi recebida com comemoração pelos mogianos. A decisão da Vara da Fazenda Pública de Mogi das Cruzes representa uma vitória importante para quem utiliza a rodovia diariamente. Mas, como já se viu em outras pautas de grande impacto, bastou o anúncio para que começasse a disputa política: afinal, quem é o pai da criança?
A Prefeitura de Mogi das Cruzes divulgou nota celebrando o resultado, destacando o empenho da Procuradoria-Geral do Município e da prefeita Mara Bertaiolli. Secretários reforçaram o discurso em suas redes, e vereadores, inclusive de oposição, também reivindicaram participação. Até ações individuais começaram a surgir, tentando colar o mérito em diferentes nomes. A cena é conhecida: quando a conquista é coletiva, muitos tentam transformar o sucesso em capital político próprio.
Mas agora, o jogo está longe de terminar. A liminar suspendeu todo o pedágio no trecho entre Mogi e a Ayrton Senna, e a nova etapa será de negociação e força política. A luta é para que os moradores de Mogi das Cruzes sejam definitivamente isentos, já que a rodovia foi construída pela cidade, e não pelo Estado que concedeu a exploração à iniciativa privada. A questão agora é política — e complexa.
De um lado, a prefeita Mara, do PL, tenta segurar o “rojão” e manter o discurso de defesa da população. Do outro, o deputado André do Prado, também do PL e atual presidente da Assembleia Legislativa, é aliado direto do governador Tarcísio de Freitas, que já afirmou não ter como impedir o pedágio na Mogi-Dutra. Um verdadeiro cabo de guerra dentro do mesmo campo político, com interesses que podem se cruzar ou se chocar conforme a pressão popular aumentar.
É nesse ponto que o debate precisa amadurecer. A vitória judicial é importante, mas passageira. O que definirá o resultado real será a capacidade de diálogo, a articulação e o compromisso dos representantes com os cidadãos, e não com as manchetes. Se o pedágio for mantido suspenso, será porque Mogi fez valer sua voz, e não por mérito de um único gabinete.
A expressão “quem é o pai da criança” cai como uma luva para momentos assim. Na política, o sucesso costuma atrair muitos pais, enquanto o fracasso é sempre órfão. Mas nesse caso, o verdadeiro autor dessa conquista é o povo mogiano, que pressionou, questionou e se manteve atento. Que a disputa por holofotes não ofusque o essencial: a luta continua, e o crédito, se houver, deve ser da cidade inteira.