Cinema

Malcolm & Marie: Relacionamentos e a indústria cinematográfica

*O texto a seguir apresenta spoilers e é apenas uma divagação da jornalista que o escreveu

Ana Luiza Moreira

Publicado

há 3 anos

em

Malcolm & Marie: Relacionamentos e a indústria cinematográfica

Netflix

Malcolm & Marie, filme da Netflix dirigido e roteirizado por Sam Levinson, é daqueles longas para se ver mais de uma vez, e em cada uma delas, pescar uma nova referência nos diálogos, na trilha sonora e até mesmo na fotografia.

A obra que foi gravada durante a pandemia, se baseia completamente no texto e na atuação dos protagonistas, que são feitos por Zendaya e John David Washington, e por mais que seja um pouco maçante de início, conquista o espectador ao elaborar em 100 minutos uma trama que a maioria das pessoas já viveu, a famosa DR.

A todo momento somos jogados contra um dos integrantes do casal, seja ao ouvir sobre suas histórias juntos, as situações que não perdoaram, as inseguranças que escodem ou como a personalidade de um pode sufocar o outro, e é aí que o filme mais acerta, ao mostrar que não existe certo ou errado, mas sim passados divergentes, que resultam em personalidades diferentes e atitudes opostas.

Ao lidar com a infância perfeita de Malcolm e a adolescência consumida pelo uso de drogas da Marie, percebemos que há algo pessoal ali, e pensei em não levantar este ponto aqui pois já conhecia a trajetória de Levinson antes de ver o filme, mas uma amiga com quem compartilhei a dica também me afirmou que é algo perceptível, então vou falar: esta é claramente uma obra autobiográfica.

A metalinguagem presente nisso é gigante, afinal, o diretor fez um filme que fala sobre um diretor que estreia seu primeiro filme e usa de sua experiência pessoal para criar personagens, e por acaso eu já mencionei aqui que Sam Levinson também era viciado em drogas?

Assim como Marie e a personagem que ela representa no filme de Malcolm.

E não para por aí, Malcolm critica justamente o que estou fazendo neste exato momento, o ato de sempre existirem críticos que tentam procurar significado para tudo, que politizam um discurso que muitas não tem a intenção de dizer mais do que já nos foi mostrado. E é o que acontece todos os dias com os criadores de séries e filmes, que são cobrados por mensagens que não queriam passar ou elevados a representantes de uma bandeira que não seguem.

No entanto, eu como curiosa que sou, serei a colunista branca mencionada no filme e pretendo procurar mais algumas explicações para o que me foi apresentado, como por exemplo, o fato da obra ser em preto e branco, o que em minha opinião significa a fase intensa da relação do casal, que não consegue ver camadas e outras cores, e que naquele momento, só enxerga a sua verdade, o seu lado e um outro contrário (o preto ou o branco).

Essa coloração também pode ser uma grande provocação para nós, já que durante o filme Malcolm diz que o cinema não precisa de razão e sim de sentimento, de vivacidade, então a fotografia dele pode ter sido criada apenas pela estética. Pois bem, se o preto e branco surge com esse intuito, mais uma vez encontro uma razão para ele.

São muitos os outros pontos que poderiam ser abordados neste texto, mas não ouso fazer isso antes de assistir Malcolm e Marie mais uma vez. Finalizo aqui agradecendo ao leitor que embarcou nas minhas ideias, e peço que se não gostou do filme, dê uma nova chance para ele e tente enxergar a obra por uma nova perspectiva, pois se o cinema precisa de sentimento, este filme entrega tudo o que é necessário.

A jornalista Ana Luiza Moreira é formada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), é desenvolvedora do Portal Freaks! e atua como redatora do Jornal O Novo.