Entrevistas

Aline Meyer fala sobre lançamento do livro "Pertencer: Uma Busca por Amor e Identidade Além do Luto"

Professora e escritora, Aline conta em entrevista ao O Novo sobre suas motivações e o processo de composição de sua obra

Fabrício Mello

Publicado

há 2 anos

em

Aline Meyer fala sobre lançamento do livro "Pertencer: Uma Busca por Amor e Identidade Além do Luto"

Reprodução/Instagram

Aline Meyer é professora, formada em Pedagogia pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada em Estudos Educacionais pela Bath University, na Inglaterra, com cursos de extensão sobre Bilinguismo na PUC. Agora, prestes a publicar o livro Pertencer: Uma Busca por Amor e Identidade Além do Luto, Aline fala, em exclusividade ao O Novo, sobre sua carreira, inspirações e motivação para escrever a obra.

O Novo: Fale um pouco sobre você e sua trajetória até este momento antes da publicação.

Aline Meyer: Nasci e cresci na Zona Sul de São Paulo. Meus pais, assim como a maior parte dos brasileiros, me ofereceram carinho, afeto e muitos esforços em meio às dificuldades financeiras e emocionais que enfrentaram enquanto eu crescia. Além disso, eles também me levavam à igreja, e lá me apresentaram à melhor escolha da minha vida: Jesus. Fui profundamente atraída pela graça da cruz de Jesus ainda cedo.

Em boa parte da minha adolescência, quando não estava na escola ou estudando, preenchi meu tempo traduzindo para grupos de missionários que vinham falar sobre o amor de Jesus nas favelas do Brasil. Minha irmã havia aprendido inglês sozinha, e seguindo os passos dela consegui aprender também. Foi lá em São Paulo, na Igreja Batista de Vila Andrade, que conheci e pude interpretar para os Duncans, um casal vindo do oeste da Pensilvânia nos EUA. 

E foi assim que, depois de muitas cartas, telefonemas e e-mails, acabei ganhando mais uma família. Na época eu, que era apenas uma pré-adolescente muito distante dos meus próprios sonhos, desejava muito viajar pelo mundo. Sem imaginar que isso realmente pudesse acontecer, acabei me envolvendo com um projeto missionário na República da Irlanda. Seis meses depois, ganhei uma viagem para ficar uma temporada inteira na Pensilvânia, com esse casal que passou a fazer parte da minha vida desde então, cuidando de mim espiritualmente e me acompanhando em muitas decisões da vida.

Essa segunda viagem mudou todo o curso da minha história. A partir desse período, me dediquei bastante para avançar no inglês e passei a usar minhas férias em viagens missionárias. Voltei mais vezes e até morei na Pensilvânia, mas retornei para o Brasil para concluir meus estudos e me dedicar a minha carreira. 

Bem lá no fundo, sempre desejei voltar para a Pensilvânia, e acreditava que minha carreira pudesse me oferecer isso um dia. Tudo mudou com a chegada da pandemia e, nesse ponto, eu ainda não tinha ideia sobre o livro e nem mesmo as mudanças de vida que estava prestes a viver.

O Novo: O que te motivou a escrever o livro? Como foi o processo de composição da obra?

Aline: Em abril de 2020, em meio ao lockdown, o Sr. Fred Duncan, que já havia se tornado como um segundo pai para mim, adoeceu (sua esposa havia falecido apenas dois anos antes disso). Eu, meu marido e minhas duas filhas passamos por três vôos, muitas máscaras descartáveis e alguns dias de quarentena para poder voltar à Pensilvânia a tempo de dizer adeus não somente ao Fred, mas possivelmente a toda a vivência que eu conhecia naquele país.

Passamos três meses nos Estados Unidos naquele ano, e lá pude reviver muitos momentos significativos na formação do meu caráter, só que dessa vez, ao lado da minha pequena família. O luto me acordou para a vida em muitos aspectos, e naqueles dias eu e meu marido tomamos decisões fundamentais sobre o futuro mudando completamente o curso dos nossos planos. Essa jornada toda, e principalmente as despedidas, me impulsionaram a escrever minha história cruzando fronteiras e laços familiares para encontrar meu lugar no mundo.

Foi mais ou menos na metade do processo que percebi que a escrita daria um bom livro. Originalmente, eu escrevi este livro em inglês, por isso me juntei ao Hope Writers, uma plataforma de apoio a escritores nos EUA. Assistir aos workshops e conhecer outros escritores me motivou a acreditar nesse projeto e me jogar de cabeça.

O Novo: Ter um livro publicado já era algo que você buscava? Qual a sensação de estar dando esse passo na sua carreira?

Aline: Desde que ingressei na universidade, sonhava em escrever livros para crianças. Meu marido é formado em Artes Plásticas, e inúmeras vezes falamos sobre contos e ilustrações que poderíamos criar para ensinar a Bíblia para crianças com boa poesia e estética também. Mas esses projetos não saíram do papel e eu nunca imaginei que escreveria as minhas memórias pessoais de forma literária. 

Enquanto caminhava o árduo e longo caminho de "autora de primeira viagem" em direção a publicação, um amigo me falou sobre a Editora Quitanda, que desde o início já demonstrou interesse na história. Por isso, traduzi a obra e enviei para eles. Nunca vou me esquecer do dia em que, em torno de 7 meses mais tarde, entraram em contato para dizer que gostariam de publicar o livro. 

A realização não é pela publicação em si apenas, mas pela fé de que esse testemunho de transformação de vida pode alcançar outras pessoas passando por processos de amadurecimento que são permeados por assuntos como: luto, ansiedade, busca por pertencimento e/ou identidade.

O Novo: Quando e por onde será possível adquirir a obra?

Aline: A Editora Quitanda está trabalhando para publicar a obra entre meados de março e início de abril. O livro poderá ser adquirido pelo site, no linktree do instagram (@editoraquitanda) e também em sites como Amazon (em papel ou versão e-book), Mercado Livre, Buobooks e The Pilgrim.

O Novo: Existe algum trecho em específico que você gostaria de compartilhar conosco? 
 
Aline: Antes de qualquer coisa, é importante saber que Pertencer: Uma Busca por Amor e Identidade Além do Luto é mais do que um guia ou uma listagem de dicas teológicas desenhadas para te ajudar a superar a perda e ausência causadas pelo luto. É um livro que conta uma jornada real de transformação, em que eu e minha família vivenciamos nosso primeiro final triste juntos. Nessa jornada, você vai ler sobre como aprendemos a encontrar vida além do pesar trazido pela morte, e como fomos surpreendidos por recomeços cheios da alegria de Deus e sonhos para o futuro.

Trecho do capítulo 1:

Olhando para a tela do meu telefone, li a última mensagem de texto
trocada com o Fred na noite anterior. — Pode voltar para casa então. Só tome
cuidado! — ele finalmente havia me dito. E eu estava mesmo voltando, com
bilhetes comprados em cima da hora e malas um tanto mal feitas também. Estava
indo para casa, mas para um lugar que não era exatamente o meu. "E qual é o
significado da palavra casa pra mim, afinal?", eu me perguntava. A movimentação
das minhas emoções aumentava, junto com a correnteza dos meus pensamentos.
Mas não podia desistir e estava pronta para continuar jogando meus braços
contra a água até encontrar os remos e navegar com eles de volta à costa.

Desde que nos casamos, Gustavo e eu nos mudamos de casa por seis
vezes. Em quatro dessas, minhas filhas já faziam parte desse cenário. Em todas
fomos ridicularizados por amigos e familiares sobre nossas mudanças intermináveis e ressenti cada uma daquelas piadas. E finalmente, infinitas foram as vezes em que odiei a mim mesma por ter de colocar minha vida toda em um caminhão, antes de nos mudarmos novamente. 

Agora não estávamos mudando de casa, mas estávamos voltando para o único lugar onde verdadeiramente me sentia em casa. O único lugar que já havia chamado de lar em meu coração.

O piloto anunciou a decolagem e todos colocaram os cintos de segurança.
Gustavo segurou forte na mão da Olivia e eu, seguindo seu exemplo, fiz o mesmo
com a mão da Elisa. As nuvens ao nosso lado estavam começando a parecer mais
reais à medida que continuávamos subindo. Foi meio que de repente que o ar
ficou extremamente rarefeito, e senti como se todo o meu corpo estivesse
começando a desaparecer na imensidão daquele céu, me tornando
completamente leve. "1, 2, 3... Respira, Aline. Respira!"

O Novo: E para o futuro, existem planos de uma segunda publicação?

Aline: Estou em fase de escrita novamente. Tenho planos e sonhos para o futuro em relação a isso, mas nada concreto ainda. Para aqueles que se interessam, publico textos no instagram @alinelucasmeyer e também no site https://quietime.medium.com (em inglês, mas sempre com a tradução em português logo embaixo).