Guararema

Lição de um Economista

José Freire

Publicado

há 5 anos

em

Lição de um Economista

Passeando por um bairro de Cambridge, lembrei-me de algo que me cativou ao assistir a filmes americanos: a ausência de cercas separando as casas. Aprendi nas aulas de economia que boas cercas fazem bons vizinhos. Portanto, a ausência de cercas geraria discórdia, mas aquela vizinhança era adorável. Como explicar? A Nova Inglaterra foi colonizada com base no minifúndio. Assim, ocupou-se de forma descentralizada o território e os custos de ocupação recaíram sobre os primeiros colonos. E quem eram eles? Famílias protestantes de classe média que se enxergavam como povo escolhido, tendo Oceano Atlântico como deserto e o Novo Mundo como Terra Prometida; sua a relação com Deus era como  do peixe com água. Brownson escreveu que há três maneiras do homem interagir com Deus:  religião,  política e  economia. Na primeira, o homem interage diretamente com Ele; nas demais, ele  faz indiretamente por meio da sociedade e da natureza.  Deus os abençoou, e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra" (Gn 1,28). Deus, outorgando aos homens poder sobre a natureza, fez deles partícipes de Sua obra como administradores. E o que possibilitaria administrá-la? O direito de propriedade. A propriedade então revestiu-se de caráter sagrado aos americanos, inspirando respeito. Se algo é interiormente respeitado, para que protegê-lo exteriormente? A ausência de cercas não seria um indício de que o respeito é tamanho de proteção exterior? Perdoem-me os economistas, mas afirmo: a ausência de cercas é sinal de bons vizinhos. E quanto à propriedade no Brasil? A abundância de portões, arames farpados e cercas elétricas dizem tudo: compensa-se exteriormente o respeito que falta interiormente. Afinal, o país foi marcado na ocupação do território por grilagem, coronelismo, sendo a propriedade vista como meio de exclusão, não de integração. Os EUA entraram para a História como o país da classe média, como ensinou Aristóteles: convém que a maioria das pessoas não seja rica nem pobre, mas que usufrua de um nível médio de riqueza. Parece então haver relação entre prosperidade econômica e direito de propriedade. Podemos dizer com isso que somos civilizados?
 

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.