Guararema

Devagarinho....

José Freire

Publicado

há 4 anos

em

Devagarinho....

– É tarde, é tarde, é tarde, é tarde, é tarde! – repete o Coelho da Alice segurando seu imenso relógio. Na época em que se repete Times is Money, ninguém tem tempo para nada e o relógio é mais consultado do que todos os sábios chineses colocados juntos. Nem sempre foi assim. Até o início do século XVIII, os monges constituíam o único grupo com um horário regrado no cumprimento de suas obrigações (orações matinais, trabalho, jejuns etc). Todavia, com o advento da chamada “Revolução Industrial”, o homem mudou drasticamente sua relação com o tempo e, o que era típico dos monges, tornou-se característica constitutiva do homem moderno: a rigidez dos horários. No entanto, o objeto do zelo mudou: enquanto entre os monges esse esmero tinha como objeto os exercícios espirituais, entre os homens modernos o trabalho tornou-se um dos principais aspectos como sinal para se reconhecer alguém, passando a ocupar a maior parte do dia. Nesse sentido, Jonathan Swift foi profético ao relatar o espanto de um liliputiano com o relógio de Gulliver: “Ele pôs este mecanismo (relógio) em nossos ouvidos, que fazia um ruído contínuo, como o de um moinho d’água: e pensamos que fosse de algum animal desconhecido, ou a divindade por ele adorada; mas nós tendemos mais para esta última opinião, porque ele nos garantiu, (se nós o entendemos direito, pois ele se expressava muito imperfeitamente) que ele raramente fazia alguma coisa sem consultá-lo”. Como reagir à tirania do relógio? Primeiramente, como já citei em outro artigo, precisamos lembrar da frase do poeta de Castela: “Devagarinho, e com boa letra; fazer as coisas bem, importa mais do que fazê-las”; mais do que fazer coisas, precisamos fazê-las bem. Além disso, em certo sentido, precisamos perder um pouco de tempo. Explico-me. Numa época com tamanha preocupação na produção de bens, deveríamos dar mais atenção àquelas ações que nada produzem de material, mas que geram um fruto invisível, como um café à tarde com um amigo, uma visita a um hospital, uma brincadeira com crianças etc. - Sou muito ocupado, não tenho tempo para isso! – protesta o leitor com semblante sério. Ora, ninguém tem tempo de fato, o tempo é que nos tem. Por definição, os únicos que não tem tempo são aqueles que já estão na eternidade, ou seja, aqueles que estão fora do tempo. Do contrário, deixe essa desculpa de lado. Infelizmente, preciso terminar meu diálogo com você, caro leitor, não por me faltar tempo, mas sim por falta de espaço...

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.