Guararema

Apeirokalia

José Freire

Publicado

há 4 anos

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Apeirokalia

A palavra grega para transmitir a incapacidade de apreciar a beleza é “apeirokalia”, enfermidade sistêmica que atinge muitas pessoas na contemporaneidade. Prova disso é aquela máxima costumeira “Gosto não se discute”. Essas e outras expressões que estão na boca de todos caracterizam uma profunda indiferença e apatia diante da possibilidade de que existem padrões universais observáveis de verdade, bondade e beleza. Se essa atitude está equivocada, o que seria então o “belo”? Pulchrum est id quod visum placet – O belo é aquilo que agrada a visão, ensinou Santo Tomás de Aquino. Percebe-se que está definição abarca dois elementos constitutivos: visão ou conhecimento (visum) e deleite ou alegria (placet). A visão é um sentido representado pelo olho. Entretanto, o doutor medieval alude à visão num sentido mais profundo, espiritual, não meramente físico. Afinal, há animais com visão aguçada, mas eles são incapazes de captar a realidade do belo. Com isso, conclui-se que o conhecimento do belo está ligado a uma potência da alma, a qual se chama consciência. Por óbvio, reconhece-se o belo unicamente quando se tem consciência de que se está diante dele. Além disso, o conceito de “belo” também engloba o deleite ou alegria. O belo não é como um quebra-cabeças cujas peças são atiradas ao ar e caem randomicamente no chão; ele se parece mais com uma proporção construída matematicamente. Explico-me. Segundo Galileu “A matemática é o alfabeto que Deus utilizou para escrever o universo”. Isso se revela nas sequências e proporções descobertas por diferentes povos, como a razão áurea, as formas geométricas, a sequência de Fibonacci etc. Ou seja, o deleite e a alegria são consequência do uso ordenado de formas, sequências e proporções na música, pintura, linguagem etc. Alguém alegaria que um grupo qualquer seria capaz de compor uma sinfonia agradável aos ouvidos? Como disse Thomas Edison “Talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Se ordem e disciplina são características necessárias para repetir padrões, não é de se esperar que tais padrões sejam justamente imprescindíveis para uma obra despertar o senso de beleza no homem? A beleza está nos olhos de quem vê, repete-se com frequência. No entanto, a beleza não está nos olhos, mas sim no objeto que se aprecia. Privado de qualquer beleza, o objeto talvez sirva como um passatempo agradável, mas jamais tocará no fundo da alma de quem o contempla. Para os gregos, Afrodite era a deusa da beleza; lembrem-se: o nome dela não é Jennifer.

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.