Guararema

A Beleza Salvará o Mundo

José Freire

Publicado

há 5 anos

em

A Beleza Salvará o Mundo

- Nossa, aqui tem muito verde!
Ouvi isso enquanto conversava com uma cliente em 2014 na cidade de Nova Iorque. Tratava-se de uma americana que morava no Brasil e, ao retornar aos EUA, levou consigo sua empregada doméstica brasileira, que proferiu a frase acima.
Soou-me estranho uma pessoa que vivia num país tropical como o Brasil espantar-se com a exuberância da natureza nos EUA.Após refletir bastante, entendi seu espanto; afinal, com raras exceções, as cidades brasileiras são incapazes de integrar harmonicamente a natureza ao espaço urbana; prova disso a competição por espaço entre galhos e linhas elétricas, raízes e calçadas; isso quando não impera a monotonia do tom cinza, como em inúmeras regiões de São Paulo, Guarulhos e Osasco.
Mais profundamente, esse espanto da empregada doméstica revela como os brasileiros estão desacostumados com um algo essencial ao homem: a beleza. Afinal, é notável que impera um caos estético nas cidades do país.
Andando pela Av. Brigadeiro Faria Lima recentemente, parei para observar algumas fotos que mostravam a mudança da região do Itaim Bibi últimos 50 anos: aquela que era uma região bucólica e calma, tornou-se uma área altamente urbanizada com inúmeros prédios espelhados e redes de franquia americanas.
Essa mudança não é isolada em São Paulo: pensemos nos casarões na região da Avenida Paulista e da Avenida Angélica destruídos para dar lugar a outros edifícios. Tais edifícios que, em geral, abandonaram qualquer padrão estético local em prol de uma suposta eficiência que em nada se preocupava com o belo e harmônico.  
Resultado: um espaço urbano caótico, feio e fétido. Quem já pegou o trem em São Paulo na Linha Esmeralda às 18h, até a Estação Pinheiros, sentiu o odor do Rio Pinheiros e acotovelou-se para entrar no vagão, entende isso.
Mais grave que o aspecto exterior do problema é o interior: será que esse caos estético externo não é um reflexo de um caos interno na alma de cada brasileiro incapaz de identificar o bom, belo e verdadeiro e, consequentemente, de interagir de maneira harmônica com o meio em que se encontra?
Se “A beleza salvará o mundo”, como ensinou Dostoevsky, a feiura certamente o destruirá.
Andando pela Faria Lima e vendo o que aquela região era e o que se tornou, com seus carros, prédios espelhados e lojas de franquias, compreendi aquela frase de T.S Eliot: “Estamos destruindo nossas construções milenares onde os bárbaros nômades do futuro ocuparão com suas caravanas mecanizadas”.
 

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.