Guararema

Os Romanos tinham razão

José Freire

Publicado

há 5 anos

em

Os Romanos tinham razão

Estava andando por um subúrbio na Filadélfia em 2015 quando uma imagem me impressionou: um carro subia a rua à esquerda de mim em minha direção. Havia uma placa STOP fincada na esquina formada entre a rua onde eu estava e aquela na qual o carro subia. Embora estivesse claro que não havia nenhum carro transitando na rua principal, o motorista do carro parou, olhou e prosseguiu viagem. Uma cena semelhante me foi relatada por um amigo: ele estava no assento do passageiro de um carro nos EUA quando o motorista parou num cruzamento. Este poderia ter prosseguido sem parar, mas, apesar de não haver nenhum carro à vista, parou, olhou e prosseguiu. Curioso pelo fato de o motorista ter parado o carro, meu amigo lhe indagou:  – Por que você parou? Não havia nenhum carro. E o motorista respondeu: – Porque a placa dizia STOP. Essas situações retratam atitude de respeito com aquilo que há de mais relevante num país civilizado: as leis. Como me disse um amigo, metade do que acontece no Brasil é inconstitucional. Nós não nutrimos reverências pelas leis, nem pelas nossas instituições. Por quê? Primeiramente, a própria mudança constante de nossas leis inspira desconfiança. Desde a independência, o Brasil teve 6 constituições (1822, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967) e a atual foi promulgada em 1988. E cada nova Constituição representou um rompimento radical com a ordem anterior, gerando instabilidade institucional e dando margem a golpes de estado.  Além disso, em muitos lugares do país ainda impera a vingança privada no lugar da lei. Estando no interior Mato Grosso, meu amigo foi surpreendido pela seguinte afirmação de um mato-grossense: – Dr., aqui a gente resolve as coisas na bala. Por fim, todo país no qual as relações pessoais prevalecem sobre a lei encontra-se num estado de barbarismo. Não é à toa que no Brasil é mais importante quem você conhece do que quem você é para conseguir um emprego, um benefício da aposentadoria ou um transplante. Como conviver num sistema que somos ora privilegiados ora prejudicados pela corrupção inerente a ele? Ainda não encontramos resposta satisfatória a pergunta. Parece que os romanos tinham razão. Eles, que aperfeiçoaram o direito e influenciaram profundamente a maneira com o entendemos hoje, rotulavam os povos que viviam além de suas fronteiras e leis como bárbaros. Se eles olhassem para nós hoje, acredito que diriam: Brasil, um país que ainda não foi civilizado.

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.