Cinema

"Meu Pai": Envelhecimento e abandono

O filme de drama possui seis indicações ao Oscar de 2021

Ana Luiza Moreira

Publicado

há 3 anos

em

"Meu Pai": Envelhecimento e abandono

Reprodução

Em minha maratona dos filmes do Oscar 2021 me deparei com "Meu Pai" ou "The Father", drama do ano passado que adapta a peça Le Père e tem a direção do estreante Florian Zeller. O filme está indicado a seis categorias da maior premiação do cinema e se destaca por sua irreverência, sensibilidade e veracidade.

Focado na mente de Anthony, um idoso de 80 anos com uma doença que lhe causa problemas para assimilar a realidade (não é especificado se estamos falando de Alzheimer ou algum outro tipo de enfermidade aqui), somos apresentados ao seu ponto de vista da vida, com uma percepção confusa sobre o tempo, o espaço e a realidade.

"Meu Pai" trabalha isso de forma impecável com seus cortes rápidos, troca de atores e até mesmo pelas discretas mudanças no cenário, o grande detalhe é que a maior parte do filme se passa em apenas um local, e nele, observamos diversas versões de uma mesma cena, sem nem ao menos conseguir definir o que de fato aconteceu ou não. No começo a experiência pode lhe causar um pouco de estranheza, mas depois nos "acostumamos" e somos jogados em um mar de irritação, tristeza, dúvida e frustração.

Mas por que assistir um filme que te desperta tantos sentimentos ruins? Bom, a ideia do longa é essa mesmo, acho inclusive que posso descrevê-lo como um exercício de empatia no qual entendemos a necessidade da autonomia de um idoso, e nos colocamos ainda no lugar de seus familiares, que vão perdendo aos poucos o ente querido que conheciam e tanto amavam.

As atuações certamente ajudam nisso, temos aqui o veterano Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes, Dois Papas) no que ouso dizer que é seu melhor papel da história, na obra ele consegue transitar entre um homem irritado pelo que sente que está perdendo, e ao mesmo tempo, mostra uma fragilidade imensa por se sentir abandonado. Tem uma cena do filme que vai te fazer sentir tudo isso ao mesmo tempo e esse trabalho merece ser reconhecido.

Já Olivia Colman (A Favorita, Fleabag), que interpreta a filha de Anthony, entrega toda a frustração que nós compartilhamos e demonstra ainda a vontade de largar tudo, o sofrimento por não entender qual a melhor forma de lidar com essa situação. E será que dá para culpar ela? Será que a vida acaba quando nos esquecemos dela?

Devo dizer que achei este um filme essencial e que provavelmente não ganhará o Oscar, mas que mesmo assim, merece ser assistido e refletido pois no momento de pandemia em que vivemos, o cuidado com os idosos e a valorização de suas histórias é mais que necessário.

A fragilidade da vida está aí, escancarada na nossa frente, e isso pode ser observado não só no filme, como também pelo aumento de doenças mentais nos últimos anos e até mesmo quando olhamos para o número de pessoas que estão morrendo diariamente por causa da Covid-19.

Aos que tem interesse, "Meu Pai" está disponível para compra nas plataformas YouTube, Now, Apple TV e Google Play. Obrigada a todos que chegaram ao final deste texto e espero que gostem do filme.

A jornalista Ana Luiza Moreira é formada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), é desenvolvedora do Portal Freaks! e atua como redatora do Jornal O Novo.