Célia Maria

Fincar bandeiras

Célia Limongi Sterse

Publicado

há 3 anos

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Fincar bandeiras

Reprodução

Nas mais diversas culturas, celebram-se com festas, ritos, as várias etapas da existência humana. Em certas sociedades, por exemplo, ao entrar na puberdade, deixando a fase infantil, o jovem passa por uma iniciação, com cerimônias especiais que marcam a importância do momento. O casamento, em todas as sociedades, mereceu e merece atenções e festividades especiais. Ritos, trajes especiais, cerimônias festivas celebram a união. Alegria, flores, comida e bebidas assinalam para todos a importância do momento na vida do novo casal. Mesmo os mais pobres, que sem condições financeiras para arcar com a cerimônia festiva, não deixam de eternizar o momento através de uma foto. O vestido  branco, o véu , a grinalda são acessórios importantes na cerimônia de casamento. Também juízes dos tribunais ingleses, na hora do julgamento,  colocam uma peruca, trajam uma veste especial, assim como  os magistrados brasileiros mostram a importância e a solenidade do ato, com o uso da toga, a veste longa, preta, com enfeites brancos. Na vida comum, rotineira, certos dias revestem-se de um significado especial. A data do aniversário, por exemplo,é comemorada, se possível, com festas, com a oferta de presentes ao aniversariante e o tradicional  bolo encimado por velas, no número de anos por ele vividos . 

A morte, a fase final da existência terrena, em todas as culturas, merece uma solenidade especial. O velório, simples ou pomposo, em recintos luxuosos reservados para essa finalidade, as velas acesas, as flores, o silêncio respeitoso que cerca o morto, indicam, paralelamente à dor dos parentes e amigos, a despedida solene da existência humana. 

O homem está sempre a estabelecer objetivos, metas a serem vencidas -é o sonhado diploma, arduamente batalhado e conquistado, a aquisição ou construção da casa própria, a promoção ou o emprego  com esforço conquistados. Em cada uma dessas situações não se deixa de lado a comemoração, a solenidade festiva e cerimoniosa do recebimento do diploma, o churrasco para os amigos para celebrar a casa nova, o jantar em um restaurante, festejando a promoção. 

No esporte, de maneira geral, os atletas fixam metas a serem atingidas.Para sinalizar a vitória, a alegria pelo objetivo alcançado, algo de palpável precisa estar em suas mãos: é a Copa do Mundo( a Taça Jules Rimet), levantada bem alto, na corrida festiva pela campo de futebol dos vencedores, a medalha olímpica colocada no peito dos primeiros colocados, o champagne borbulhante a espirrar do alto do pódio, nos campeonatos da Fórmula I. Vitórias marcantes da tenacidade de um homem ou de uma nação exigem um sinal visível. Diz-se que “sempre que chega num lugar incrível, o homem finca uma bandeira no chão”. É o que fazem os conquistadores de novos mundos, de pontos praticamente inacessíveis, como as regiões extremas dos pólos, ou as altas montanhas cobertas de gelo eterno.

O passeio na Lua, feito pelos astronautas norte- americanos Armstrong e  Aldrin, fez-se após a colocação em solo lunar da bandeira dos Estados Unidos. Assim também a chegada de Amundsen ao Pólo Sul, a escalada do Himalaia foram comemoradas com o hasteamento de uma bandeira, sinalizando um fato heróico, culminância da persistência e esforços humanos. Fincar bandeiras no sentido concreto ou no plano simbólico, através de comemorações, festas, objetos representativos, significa muito para o homem. Representa sempre a vitória por um objetivo alcançado e muito mais, a certeza de que, com esforço e dedicação pode ampliar seus horizontes, afirmar cada vez mais a confiança em suas possibilidades, projetar-se, enfim, como o  senhor , o dominador de si próprio e do meio em que atua. 

 

Celia Maria Limongi Sterse, viúva de José Roberto Sterse, avó de 5 netos, tem 3 filhos: Carlos José, juiz; Adriana, oficial de Justiça; e Maria Isabel, biomédica. Formada em Letras Neolatina (USP), Pedagogia (UMC) e Mestra em Língua Portuguesa (PUC SP), foi professora estadual de Português e professora universitária de Língua e Literatura Francesa, Linguística, Língua e Literatura Brasileira, nas universidades UMC, Brás Cubas, Puc (Poços de Caldas) e professora titular de Língua Portuguesa na Universidade  Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Dourados.