Guararema

O que é que há, velhinho?

José Freire

Publicado

há 5 anos

em

O que é que há, velhinho?

Os leitores que nasceram até meados da década de 90 conhecem essa frase; Pernalonga, Patolino, Frajola e Piu-Piu eram parte do repertório cultural de toda criança sadia. Essa geração foi a mais privilegiada em termos de qualidade de desenhos animados. Além de ter recebido o melhor da geração anterior composta por desenhos de Hannah Barbera e Walt Disney, foi na década de 90 que os desenhos japoneses entraram no mercado brasileiro (Cavaleiros do Zodíaco, DBZ, Yu-Yu-Hakusho), bem como os desenhos de super-heróis (Batman: The Animated Series, Liga da Justiça). Além da beleza dos desenhos tanto no aspecto visual como musical (afinal, o Pica-Pau canta a ópera O Barbeiro de Sevilla), o conteúdo moral desses desenhos era excelente. Quem não se recorda dos ensinamentos do Mestre dos Magos em Caverna do Dragão? Infelizmente, a partir dos anos 2000, algo de podre começou a cheirar no Reino da Dinamarca. O símbolo dessa derrocada na qualidade foi o Cartoon Network. Antes, a qualquer momento, estava passando um desenho bacana no Cartoon. Hoje, com exceção de Dragon Ball, assistir o canal se tornou mais uma penitência do que um lazer. Por quê? Num mundo marcado pelo relativismo moral e estético, é de se surpreender que encontremos os reflexos dessa mentalidade nos desenhos? Há 15 anos, crianças e adolescentes aprendiam a ouvir música clássica assistindo a Tom e Jerry e a entrar pela porta estreita com o Pinóquio. E hoje? Hoje impera uma profunda decadência no ramo dos desenhos animados em todos os sentidos. Em sentido técnico, decadência significa a perda de um objeto. Sendo um ramo da arte, os desenhos animados sofrem a perda do que era o objeto da arte até recentemente: o bom, belo e verdadeiro.
Afastado esse objeto, o que resta? Um vazio preenchido por propaganda político-ideológica regada com politicamente correto. Resultado? Desenhos bobos, chatos e superficiais, incapazes de abordar temas como a maldade humana, o sofrimento, a decepção, derrota etc. Consequentemente, encontram-se cada vez mais crianças com dificuldade para amadurecer, fracas, inconstantes e mimadas. Uma vez que jamais se depararam com o mal em imaginação, facilmente sucumbem diante da menor contrariedade que sofrem na pele. Nesse sentido, fica a lição de G.K Chesterton: Um dragão de sete cabeças é um monstro assustador. Mas uma criança que jamais ouviu falar dele é um monstro mais assustador ainda.

José Freire Nunes é  um jovem de 24 anos, que se formou na Universidade de São Paulo (USP) no ano de 2016 no curso de Direito. Atualmente, atua como mentor educacional. Freire, fez cursos no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra.  Os cursos consistiram em seminários de verão de 4 dias a até 15 e cursos de inglês de até 4 semanas. 
Os cursos ocorrerem na Universidade de Cambridge (UK), Universidade de Harvard, Universidade de Yale e Bryn Mawr College.