Brasil
Depois da CPI das Bets, o governo quase entrou no mesmo jogo: “Bet da Caixa” expõe contradição e vira símbolo de hipocrisia estatal
Meses após o fim da CPI das Bets, a tentativa da Caixa de lançar sua própria plataforma de apostas foi suspensa por pressão política e escancarou a confusão moral de um Estado que condena o jogo, mas quer lucrar com ele

A CPI das Bets, encerrada em junho de 2025, investigou durante sete meses o mercado bilionário das apostas esportivas online. A comissão nasceu com a promessa de enfrentar um setor marcado por suspeitas de lavagem de dinheiro, manipulação de resultados e vínculos com o crime organizado.
Mas terminou sem relatório aprovado, sem punições e sem nenhuma medida concreta.
O texto da relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que propunha o indiciamento de 16 pessoas, foi rejeitado por 4 votos a 3. O resultado gerou frustração e críticas de parlamentares como Eduardo Girão (Novo-CE), que classificou a CPI como “omissa” e “falha em proteger a sociedade”.
Meses depois, veio a ironia: a própria Caixa Econômica Federal, estatal vinculada ao governo, tentou entrar no mercado das apostas. Batizada de “Bet da Caixa”, a plataforma foi anunciada sob o argumento de que as loterias tradicionais perderam até 50% da arrecadação para os sites privados de apostas. A instituição esperava recuperar apostadores e gerar até R$ 2,5 bilhões em receita já em 2026.
A proposta chegou a ser tecnicamente aprovada pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, mas a repercussão política foi desastrosa. A iniciativa foi atacada por senadores, como Damares Alves (Republicanos-DF), que classificou a ideia como “um retrocesso moral e institucional”, lembrando que o mesmo governo que criticou as bets agora queria faturar com elas.
A reação chegou ao Planalto. Irritado com a exposição negativa, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, determinou a suspensão do projeto em novembro de 2025, alegando “inadequação de momento político”.
O caso da “Bet da Caixa” escancarou uma contradição difícil de justificar: o Estado que se diz guardião da segurança pública e da ética financeira é o mesmo que, quando vê o lucro escapar, senta à mesa do jogo.
Entre o moralismo e o pragmatismo fiscal, o governo quase apostou e perdeu na própria incoerência.















