Célia Maria

A voz de Deus

Célia Limongi Sterse

Publicado

há 3 anos

em

A voz de Deus

Reprodução

Você não sabe o dia nem a sua hora. Esta afirmação verdadeira e ameaçadora assusta-nos se refletirmos sobre esse fato. Mas não queremos pensar na Morte, queremos acreditar que ameaça os outros, os desconhecidos, os artistas conhecidos através da mídia, pessoas com as quais não mantemos um contato direto ou mesmo conhecidos distantes.

Quando, por um acidente, você se vê frente a frente com a morte, vem-nos a terrível certeza de que, neste mundo, todos estamos sujeitos à fatalidade, que é a grande ameaça de nossas vidas. Se ela o poupou, foi pela mão de Deus que esteve a seu lado naquele momento. Diante da possibilidade concreta e imediata da morte, você se dá conta da sua pequenez diante da vida, das forças da natureza, da imprevidência humana ou dos “azares” dos acontecimentos fortuitos.

E se esta situação de escapar com vida de um acidente se repete, você não deve simplesmente pensar que é uma pessoa de muita sorte, mas um protegido pelas forças divinas. Se você é religioso, certamente encarará essa situação não como fruto de sorte, obra do acaso, de sua habilidade no volante, ou sangue-frio diante dos imprevistos.  Você se pergunta: o que fez com que o veículo se desviasse alguns poucos centímetros, o cavalo não entrasse no carro, os ferimentos sofridos fossem pequenos, a batida não tivesse travado o carro possibilitando que não fosse esmagado pela carreta atrás em alta velocidade. Ou que, em outra ocasião, em hora de rush, à noite, em estrada movimentada, o veículo, tendo derrapado na pista, não tenha colidido com outros.  Ou, após o capotamento, com o carro de rodas para cima, você, saindo pelo vidro estilhaçado da porta, meio tonta, estendida na pista não tenha sido vitimada por um veículo que nesse momento por ali passasse.

E nada de mais grave acontece. Fruto apenas do acaso? Você, passados os instantes de estupor, percebe que Deus estava a seu lado. A mão divina afastou os carros, cujos motoristas, dada a situação, ao perceberem o acidente, não teriam condições de evitar a batida com o veículo parado na pista escura e sem sinalização, nem perceber  um corpo estendido.

É hora então de escutar a voz de Deus. O que Ele quer de você, o que quer que faça de sua vida, já que por duas vezes, recebeu, novamente o maravilhoso presente da vida. Parar e pensar. Mesmo não sendo uma pessoa dada à meditação, com certeza você fará um balanço de sua vida. Perceberá um aviso, um conselho : evite viagens à noite. Escutará também uma chamada à reflexão- não será hora de fazer um balanço de suas realizações e ver o que importa realmente na vida ?

Refazer as prioridades. Ver que muito do seu tempo poderia ser gasto com a família, com você mesma , curtir mais a vida, já que, ela é passageira e pode acabar num instante. Você se dá conta da importância do tempo. Na juventude parece inesgotável, na maturidade nos vem a sensação de sua passagem veloz, na velhice  torna presente sua marcha inexorável; os dias vividos passam a ser contabilizados e cada novo dia é sentido com uma vitória.

Viver para sentir a vida, em sua plenitude, e não só para o trabalho e as preocupações com o futuro. Se você não vive o presente, se não aproveita o que a vida lhe dá no “aqui e no agora”, preocupando-se excessivamente com o futuro, isso não lhe trará o sossego quando o amanhã    se tornar a vivência do presente, pois a sua preocupação se centrará nos dias que estarão por vir.

Importa isto sim, juntar aquele tesouro de que falam as escrituras: “um tesouro que o ladrão não pode roubar, nem a traça roer”, isto é, os valores espirituais. Cercar-se da família, dos amigos, promover a amizade, a solidariedade entre as pessoas, ser um porto seguro de calor humano, de acesso fácil e acolhedor. Que todos encontrem em você abrigo hospitaleiro, um ouvido atento, um ombro amigo, recebam uma palavra de consolo e esperança.      

Licenciada em Letras Neolatinas (USP)

Mestre em Língua Portuguesa (PUC-SP)

E-mail: [email protected]

Celia Maria Limongi Sterse, viúva de José Roberto Sterse, avó de 5 netos, tem 3 filhos: Carlos José, juiz; Adriana, oficial de Justiça; e Maria Isabel, biomédica. Formada em Letras Neolatina (USP), Pedagogia (UMC) e Mestra em Língua Portuguesa (PUC SP), foi professora estadual de Português e professora universitária de Língua e Literatura Francesa, Linguística, Língua e Literatura Brasileira, nas universidades UMC, Brás Cubas, Puc (Poços de Caldas) e professora titular de Língua Portuguesa na Universidade  Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Dourados.